24.08.16 | O documentário “O Diplomata”, montado e co-dirigido pela associada Isabel Lacerda, foi convidado a participar do Festival de Cinema Latino Americano de Trieste (Itália) em outubro. No filme, o diplomata brasileiro Arnaldo Carrilho – enquanto servia à embaixada brasileira na cidade de Sydney, Austrália – fala sobre vários temas, com destaque para o cinema, área com a qual se relacionou intimamente através do contato com os principais artífices do Cinema Novo no Brasil. O documentário tem ainda Fábio Carvalho e Flávia Barbalho na direção.
Isabel Lacerda nos contou sobre seu processo de trabalho:
“Meu processo de chegada até o cinema não partiu da montagem, e sim chegou até ela. Desde a infância estudando música, procurei a fotografia na década de 80, praticando com câmeras mecânicas. Na mesma década me interessei pelo teatro e atuação até, finalmente, me encontrar com a representação cinematográfica, onde estava isso tudo; arte totalizante. A partir daí, trabalhando em parceria com Fábio Carvalho, produzi, atuei, roteirizei até chegar à direção (“Arquitetura Utopia”, “Quadros, Meu Rio de Janeiro”, “Guignard Imaginário”) e compreender que a montagem é o específico cinematográfico. Foi um fascínio. Toda a minha formação passou a servir a essa especificidade.
No filme mais recente que montei, “O Diplomata”, que começou sua carreira de exibição agora, no final de 2015, não participei do processo de filmagem, caso raro para mim. A inexistência de convívio pessoal com quem quer que seja que me traga alguma memória afetiva me coloca em um processo diferente – aguça a capacidade de me ater ao sentido e forma do filme (lembrando Eisenstein).
Conteúdos como uma fala ou o significado político da participação de alguma persona cabem ao diretor pesá-las e arcar com suas implicações.
Sempre em diálogo com o montador. Aí está. Neste filme, a realizadora e produtora das imagens não tinha muita experiência como diretora cinematográfica. Chamou a mim e ao Fábio para finalizarmos o filme. Eu e Fábio definimos que discurso iria prevalecer, já que as falas do diplomata Arnaldo Carrilho, homem de cultura abrangente, abordam diversos temas. Escolhemos destacar suas opiniões sobre estética e política cinematográfica e a política em geral, que é o que ele fala com mais elegância e muito conhecimento, deixando pistas das outras vias pelas quais ele discorreu. Creio que conseguimos mostrar um retrato fiel desse homem, é o que dizem os que o conheceram.
Trata-se de uma montagem de um filme com muita fala, o que exige também bastante atenção já que ultrapassamos o cinema mudo.Diante disso, enxertamos imagens e música montadas com seu discurso para construirmos um filme autônomo, que traga interesse ao máximo de pessoas que o vejam, independente do interesse específico no assunto cinema.
Chove na Ilha de Cuba.”
Em 2015, “O Diplomata” foi exibido no Festival de Havana. Assista ao trailer do filme: