Seção Match Frame – Natara Ney

20.MAI.14 | Natara Ney é a convidada deste mês para a Seção Match Frame. A montadora pernambucana assina a montagem dos premiados longas-metragens “A Máquina”, “O Mistério do Samba” e “O Rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas”.

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Fale sobre o projeto em que você está trabalhando atualmente.

Atualmente estou editando o documentário Divinas Divas. Direção Leandra Leal.

Qual foi o trabalho que significou o maior desafio em sua carreira e explique o porquê.

Acho que o primeiro é sempre o mais arrebatador, eu estava no Rio há muito tempo e só tinha feito assistência de montagem, quando o Paulo Caldas me chamou para montar o Rap do Pequeno Príncipe. Paulo é um diretor muito presente, então foi um processo de aprendizado e de parceria muito bom.

As recentes mudanças tecnológicas tiveram algum impacto sobre a sua forma de pensar a montagem e realizar a montagem?

Eu edito muito no papel, gosto de escrever as sequências e olhas para elas escritas, pensar qual a função delas dentro do filme. Penso muito na edição quando estou fora da sala de montagem. Então a tecnologia é apenas uma ferramenta, que sempre vai mudar, mas o meu processo é dentro do meu juízo.

Indique um filme cuja edição você admire e explique o porquê.

O primeiro que vem a minha mente é “O Homem que Engarrafava Nuvens” Tem essa vitalidade nos cortes e ao mesmo tempo uma montagem atemporal, uma costura invisível.

Fale um pouco sobre o início de sua carreira. O que te levou a ser montadora?

Me formei em jornalismo, e logo no início da faculdade consegui um estágio em uma emissora local. Depois comecei a editar alguns programas para tv, dirigidos por Paulo Caldas e Lírio Ferreira. Algum tempo depois conheci o Mair e vim para o Rio ser assistente dele.  

Por que você escolheu a montagem como profissão?

Nunca imaginei que uma pessoa pudesse viver de fazer cinema, a pessoa no caso eu mesma. Fazer cinema era algo muito distante de tudo o que eu vivia, achava algo etéreo, fantasioso. O que havia em mim desde sempre era o desejo de contar histórias, de narrar fatos.  Veio então o Jornalismo como uma ferramenta para isto, algo sólido e concreto. Depois o teatro, como jogo lúdico, entrou na minha vida. Aprendi que construir uma fantasia para o público envolvia um trabalho duro, e por um tempo pensei no teatro como este caminho para o meu lado artístico. Mas numa tarde qualquer conheci Lírio Ferreira e achei a minha turma definitivamente, percebi que era possível fazer e viver de cinema. A montagem surgiu porque na época que comecei a trabalhar havia poucas mulheres fazendo isso em Recife e envolvia ferramentas que eu tinha aprendido no jornalismo e no teatro que são a estrutura narrativa e a objetividade quando se quer contar bem uma história. Enquanto o set é todo movimento e energia física, a montagem é um diálogo mais tranquilo e cerebral.

Como você acha que a associação pode contribuir para a nossa categoria? Você já notou alguma mudança? Tem alguma sugestão?

Sim, as discussões sobre o processo passaram a ser em grupo, e sinto que não estou mais sozinha para resolver os diversos tipos de problemas que surgem não só na montagem mas nas questões legais.