Publicado em 05/02/2020
Livro: Cutting Rhythms: Intuitive Editing, de Karen Pearlman
Confesso, ainda não consegui terminar a leitura desse livro para poder fazer uma resenha a altura do que ele promete. Para compensar, tive uma ideia. Vou publicar aqui uma tradução livre e comentada da introdução do livro, pois é praticamente uma auto resenha. Sou lento no inglês, então vou publicar também o texto original abaixo, caso alguém se sinta disposto a me ajudar a ser mais preciso na tradução. É o que temos para hoje, guys.
Cutting Rhythms trata obviamente do ritmo na edição. Ele começa com a questão: O que se pode falar sobre essa questão de dar ritmo a um filme na edição além do velho chavão “é uma coisa intuitiva”? Essa questão nos leva a um estudo aprofundado sobre a criatividade e intuição rítmicas dos montadores, seus processos e ferramentas para criar ritmo, e a função do ritmo nos filmes. Cutting Rhythms apresenta ideias sobre o que é o ritmo na montagem, como é conformado e pra que serve. Estudos de caso sobre a construção do ritmo nos filmes editados pela autora e exemplos de ritmo numa penca de outros filmes são apresentados para descrever e ilustrar as aplicações práticas das ideias do livro.
Cutting Rhythms já começa no Capítulo 1 perguntando justamente sobre intuição. A que tipo de reflexões e práticas o editores se referem quando dizem que a manipulação do ritmo na montagem é uma coisa “intuitiva”? Pode essa competência de cortar “intuitivamente” ser desenvolvida? Cutting Rhythms propõe que sim, ela pode. O livro se baseia em diversas fontes de conhecimento sobre intuição, incluindo ciência, filosofia, educação, teoria do cinema e até teoria da dança para encontrar maneiras de fortalecer, apoiar e refinar a intuição rítmica.
O Capítulo 1 descreve a intuição do editor sobre o ritmo como algo desenvolvido a partir da percepção consciente dos ritmos do mundo e dos ritmos do próprio corpo. Essas são as fontes da experiência incorporada do montador e da inteligência implícita sobre o ritmo. Também são os gatilhos que ativam a criatividade do editor para encontrar e estabelecer esses ritmos no corte.
O Capítulo 2 desenvolve as idéias do capítulo 1 sobre pensamento e movimento físico. Apresenta a noção de que a edição é uma forma de coreografia, porque, como coreógrafos, o que os editores fazem é manipular a composição de imagens e sons em movimento para moldar um fluxo de significações. Este capítulo analisa algumas das maneiras pelas quais coreógrafos e dançarinos trabalham com movimento e descobre que eles fornecem algumas ferramentas de criação bastante úteis para moldar os ritmos de um filme.
As ferramentas para moldar os ritmos são discutidas no Capítulo 3, que divide e define “tempo” e “ritmo”. Este capítulo também apresenta o conceito de “trajectory phrasing,” não sei muito bem como traduzir isso (assim como o resto), mas imagino que “construção frasal” ou simplesmente “fraseado” se aproxima da ideia da autora. O termo busca descrever algumas das principais operações executadas por um editor a definição de tempo ou ritmo não dá conta com justa precisão. “Fraseado” é o que estamos fazendo ao escolher diferentes tomadas de uma performance para as colarmos umas às outras, criando a impressão de fluxo único de energia e intencionalidade. É uma maneira útil de se refletir sobre certas decisões cruciais na edição.
O capítulo 4 analisa porque o movimento no filme é moldado na forma de ritmos. Descreve o efeito dos ciclos rítmicos de tensão e liberação na mente e no corpo do espectador, e o efeito da sincronização que o ritmo de um filme pode provocar nos ritmos internos do espectador. Para que serve o ritmo? Por que um filme precisa disso? Este capítulo sugere duas razões: precisamos criar ciclos de tensão e liberação e sincronizar o público com o movimento do filme. Eis como funciona: O editor molda movimento de eventos, movimento de emoções, movimento de imagens e sons em ritmos que seguimos com empatia. Se ele os molda bem, sincronizamos com eles. Ficamos tensos com o aumento da tensão, deixamos ir com a liberação. Nossas mentes, emoções e corpos se movem com a abertura e o fechamento rítmicos de perguntas cognitivas sobre eventos, a ascensão e queda rítmicas de emoções, os padrões rítmicos e pontuações de imagens e sons.
Esses quatro capítulos propõem cumulativamente que: Ritmo na edição de filmes é tempo, movimento e energia moldados pela manipulação das durações, do andamento e do fraseado com o objetivo de criar ciclos de tensão e liberação. Com essa definição em mãos, a autora aplica suas idéias sobre intuição, abordagens coreográficas e as ferramentas e propósitos do Ritmo para os diferentes tipos de ritmo que os editores encontram, ou seja, os ritmos que o filme pede. Os termos “ritmo físico”, “ritmo emocional” e “ritmo de eventos” são usados como formas de descrever tipos de ritmo e algumas das abordagens que os editores podem adotar para trabalhar com eles.
Por fim, o Cutting Rhythms oferece uma série de capítulos que abordam questões e específicas e oportunidades de edição. Começa com um capítulo sobre estilo, analisando os tipos de decisões que um editor toma sobre montagem temática, cortes em continuidade, colisão e vinculação ao estabelecer e sustentar um estilo.
O capítulo 10 analisa a ação paralela, a câmera lenta e a câmera rápida – coisas que um editor pode usar para variar a textura rítmica de um filme – como elas funcionam melhor e quando caem no clichê. O Capítulo 11 analisa uma das questões e oportunidades mais complexas do editor – colaboração – e descreve de maneira lúdica o processo intuitivo de colaboração com os diretores como um “Vulcan Mind Meld” (seria uma fusão de magma mental?). O livro termina com uma nova ideia que vem sendo desenvolvida para os novos processos de filmagem permitidos pelo baixo custo da tecnologia digital. A autora propõe que possamos usar um processo de “rascunho na tela” para trazer o “pensamento de edição”, único e intuitivo de um editor, para o processo de criação dos filmes bem mais cedo, o que pode trazer resultados muito melhores. [Essa ideia me aterroriza…]
Texto original: Introduction
Cutting Rhythms is about rhythm in film editing. It begins with the question: What can be said about the shaping of a film’s rhythm in editing beyond saying “it’s intuitive”? This question leads to an in-depth study of editors’ rhythmic creativity and intuition, the processes and tools editors work through to shape rhythms, and the functions of rhythm in film. Cutting Rhythms covers ideas about what rhythm in film editing is, how it is shaped, and what it is for. Case studies about creating rhythm in films edited by the author and examples of rhythm in a range of other films describe and illustrate practical applications of these ideas.
Cutting Rhythms begins in Chapter 1 by asking about intuition. What kinds of thinking and practice are editors referring to when they say the processes of creating rhythm are “intuitive”? Can the capacity to cut “intuitively” be developed? Cutting Rhythms proposes that it can. It draws on diverse sources of knowledge about intuition, including science, philosophy, education, film theory, and even dance theory to define ways of strengthening, supporting, and refining rhythmic intuition. Chapter 1 describes the editor’s intuition about rhythm as something developed from mindful awareness of the rhythms of the world and the rhythms of one’s own body. These are the sources of the editor’s embodied expertise and implicit intelligence about rhythm, and they are also the triggers that activate the editor’s creativity in cutting rhythms.
Chapter 2 of Cutting Rhythms builds on the ideas in Chapter 1 about physical thinking and movement. It puts forward the notion that editing is a form of choreography, because, like choreographers, what editors do is manipulate the composition of moving images and sounds to shape a meaningful flow. This chapter looks at some of the ways in which choreographers and dancers work with movement and finds that these provide some quite useful crafting tools for shaping a film’s rhythms.
The tools for cutting rhythms are discussed in Chapter 3, which breaks down and defines “timing” and “pacing.” This chapter also introduces “trajectory phrasing,” a term devised to describe some of the key operations an editor performs that are not precisely covered by timing or pacing. “Trajectory phrasing” is what we are doing when choosing different takes of a performance to join together, to create the impression of a single flow of energy and intention. It is a useful way of thinking about some key editing decisions.
Chapter 4 looks at the purposes for which movement in film is shaped into rhythms. It describes the effect of rhythmic cycles of tension and release on the viewer’s mind and body, and the effect of synchronization that a film’s rhythm can have on the rhythms of a viewer.
These four chapters cumulatively propose that: Rhythm in film editing is time, movement, and energy shaped by timing, pacing, and trajectory phrasing for the purpose of creating cycles of tension and release.
With that definition in hand, Cutting Rhythms then applies its ideas about intuition, choreographic approaches, and the tools and purposes of rhythm to different types of rhythm that editors encounter. The terms “physical rhythm,” “emotional rhythm,” and “event rhythm” are used as ways of describing kinds of rhythm and some of the approaches that editors might take to work with them.
Finally, Cutting Rhythms offers a series of chapters that address particular editing issues and opportunities. It starts with a chapter on style, looking at the kinds of decisions an editor makes about thematic montage, continuity cutting, collision, and linkage when establishing and sustaining a style. Chapter 10 looks at parallel action, slow motion, and fast motion-things an editor can use to vary the rhythmic texture of a film-how they work best and when they descend into cliche. Chapter 11 looks at one of the editor’s most complex issues and opportunities-collaboration-and playfully describes the intuitive process of collaborating with directors as a “Vulcan Mind Meld.” The book ends with a new idea being developed for the new filmmaking processes that we are being offered by low-cost digital technology. It proposes that we can use a process of “onscreen drafting” to bring an editor’s unique and intuitive “editing thinking” into the filmmaking process much sooner, for much better results.
Cutting Rhythms is written to address editors and filmmakers who are learning their craft and more experienced practitioners who find their work benefits from discussion of their craft. Knowledge about rhythm helps students and editors to shape rhythms and maximize their material’s rhythmic potential. It is also relevant to the screen studies scholar who is interested in the connection of theoretical ideas to practical methods and outcomes. Its purpose is to stimulate ways of thinking and talking about rhythm in film and to understand and deepen rhythmic creativity.
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Sou formado em jornalismo com pós em Marketing e Comunicação. Sou cria da Casa de Cinema de Porto Alegre, onde comecei como assistente do Giba. Montei as séries Notas de Amor; Mulher de Fases, Doce de Mãe e De Carona com os Ovnis, além dos longas-metragens Entreturnos, Contos do Amanhã, Legalidade; Yonlu; Depois do Fim; Pra Ficar na História e O Método. Desde 2007, sou professor de audiovisual nos cursos de Publicidade e Propaganda, Design e Jornalismo da ESPM.
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