Curta com montagem de Jordana Berg estreia no Festival de Cannes

A edição 2016 do Festival de Cinema de Cannes tem início dia 11 de maio e conta com alguns títulos brasileiros na programação. A Quinzena dos Realizadores, importante mostra paralela à competição official, selecionou o curta “Abigail”, de Isabel Penoni e Valentina Homem. O filme foi montado pela associada e atual vice-presidente da edt., Jordana Berg. Sobre o processo de trabalho no curta, Jordana nos contou com exclusividade:

“O desafio de Abigail começou no projeto. Havia um material de 3 horas filmado com a personagem, mas infelizmente ela faleceu antes do projeto terminar. Após sua morte, as diretoras voltaram à casa de Abigail e fizeram uma filmagem do ambiente vazio.

Abigail foi esposa do indigenista Francisco Meirelles e com ele pacificou os Xavantes. O projeto inicial queria tratar da maneira com que Abigail fazia o cruzamento entre os rituais indígenas e os rituais de candomblé ao qual pertencia.

O filme teve duas montagens completamente diferentes. A primeira versão tentava contar sua história com as 3 horas de entrevistas que possuíamos com ela. De  repente percebemos que isso não era suficiente nem mesmo instigante e a mudança de rota aconteceu para que pudéssemos buscar  o clima mágico e o que ela própria chamava de invisível. Isso significou desapegar de informações que, por muito tempo, consideramos importantes.

O filme, que tinha um ritmo uniforme, mesclando depoimento e imagens da casa, foi remontado trabalhando-se em cima da idéia de deslocamento. Deslocamento dos sons em relação às imagens, por exemplo. Criou-se um caleidoscópio em que o espectador “monta” na cabeça o som que está ouvindo no presente com alguma imagem que já viu em outro momento da montagem (e vice-versa). Por exemplo, o material de arquivo, com Abigail pacificando os Xavantes vem acompanhado de outro som, desvinculando essas cenas da necessidade de explicar ou provar que esta que estamos vendo é Abigail e diminuindo o senso de real das imagens. Isso mantém o espectador sem uma terra firme, possibilitando assim seu mergulho no universo mágico da personagem”.

Além de “Abigail”, outras produções brasileiras serão exibidas em diferentes mostras do prestigiado evento cinematográfico. “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, está na competição oficial de longas; “A Moça que Dançou com o Diabo”, de João Paulo Miranda Maria, na competição oficial de curtas; O Delírio é a Redenção dos Aflitos”, de Fellipe Fernandes, passa na Semana da Crítica; e “Cinema Novo”, de Eryk Rocha, foi programado para a mostra Cannes Classics.